sexta-feira, 3 de agosto de 2012

OSTRA FELIZ NÃO FAZ PÉROLA



O que chamou minha atencão neste livro foi o texto que lí na contracapa que dizia o seguinte:

“Ostra feliz não faz pérola”. A ostra, para fazer uma pérola, precisa ter dentro de si um grão de areia que a faca sofrer. Sofrendo a ostra diz para si mesmo:
“Preciso envolver essa areia pontuda que me machuca com uma esfera lisa que lhe tire as pontas…” Ostras felizes não fazem pérolas… Pessoas felizes não sentem a necessidade de criar. A ato criador, seja na ciência ou na arte, surge sempre de uma dor, Não é preciso que seja uma dor doída…Por vezes a dor aparece como aquela coceira que tem o nome de curiosidade. Este livro está cheio de areias pontudas que me machucaram. Para me livrar da dor, escrevi"

Eu não podia ter feito escolha melhor. Neste livro Rubem Alves nos presenteia com textos sobre vida, educacão, beleza, natureza, religião, saúde mental, política, amor, criancas etc. A visão de alguém experiente, amoroso, querido e talentoso. Ninguém é obrigado a concordar com tudo que um autor escreve mas pode se deliciar com textos como este que vou reproduzir abaixo, onde ele fala sobre "a beleza".

Um dia Rubem estava ouvindo uma sonata para violino e piano e se emocionou. Perguntou a si mesmo: Porque é que você está chorando?. A resposta veio fácil: choro por causa da beleza. Mas o que é a experiencia da beleza? Sem uma resposta pronta lembrou de algo que aprendeu com Platão.

"Platão, quando não conseguia dar respostas racionais, inventava mitos. Ele contou que, antes de nascer, a alma contempla todas as coisas belas do universo. Esta experiência é tão forte que todas as infinitas formas de beleza do universo ficam eternamente gravadas em nós. Ao nascer, esquecemo-nos delas. Mas não as perdemos. A beleza fica em nós adormecida como um feto. Assim, todos nós estamos grávidos de beleza, beleza que quer nascer para o mundo qual uma crianca. Quando a beleza nasce, reencontramo-nos com nós mesmos e experimentamos a alegria. Agora vem a contribuicao de Rubem Alves. Continuando o mito. Há seres privilegiados – eles bem que poderiam ser chamados de anjos – aos quais é dado acesso a esse mundo espiritual de beleza. Eles veem e ouvem aquilo que nós nem vemos nem ouvimos. Aí eles transformam o que viram e ouviram em objetos belos que os homens normais podem ver e ouvir. É assim que nasce a arte. Ao ouvir uma música que me comove por sua beleza, eu me re-encontro com a mesma beleza que estava adormecida dentro de mim"

Eu acho que Rubem é um destes anjos que transforma o que vê em beleza.





2 comentários:

Sílvia Novaes Fernandes disse...

Juliette.
"Conheci" você pelo site da Freguesia do Livro onde a Jô comenta sobre você. Sou Fernandes também o que já nos torna quase parentes...Tive o prazer de conversar com o Rubem Alves e presenteá-lo com meu primeiro livro de poesias. Ele me deixou feliz ao colocá-lo em sua pasta de mão dizendo que iria lê-lo no avião...quase nem dormi de felicidade!Gosto muito do que ele escreve! Tenho colaborado também com a doação de livros nessa campanha maravilhosa encabeçada pela Jô Bibas. "Nem tudo está perdido" é o que penso vendo essa iniciativa tão bonita! E você mesmo estando tão distante, colabora...Um abraço e muitas, muitas felicidades!

Juliette disse...

Oi Silvia,

Rubem Alves lendo um livro seu enquanto voa é para emocionar mesmo. Ele é uma delícia de senhor ne? Quanto ao nosso trabalho de tentar fazer as pessoas amarem os livros não é fácil não, ainda mais quando se vive em um país onde não se preocupam muito com isso na infância, masssss devagar chegamos lá.

beijo
Ju