O que chamou minha atencão neste livro foi o texto que lí na contracapa que dizia o seguinte:
“Ostra feliz não faz pérola”. A ostra, para fazer uma
pérola, precisa ter dentro de si um grão de areia que a faca sofrer. Sofrendo a
ostra diz para si mesmo:
“Preciso envolver essa areia pontuda que me machuca com uma
esfera lisa que lhe tire as pontas…” Ostras felizes não fazem pérolas… Pessoas
felizes não sentem a necessidade de criar. A ato criador, seja na ciência ou na
arte, surge sempre de uma dor, Não é preciso que seja uma dor doída…Por vezes a
dor aparece como aquela coceira que tem o nome de curiosidade. Este livro está
cheio de areias pontudas que me machucaram. Para me livrar da dor, escrevi"
Eu não podia ter feito escolha melhor. Neste livro Rubem Alves nos presenteia com textos sobre vida, educacão, beleza, natureza, religião, saúde mental, política, amor, criancas etc. A visão de alguém experiente, amoroso, querido e talentoso. Ninguém é obrigado a concordar com tudo que um autor escreve mas pode se deliciar com textos como este que vou reproduzir abaixo, onde ele fala sobre "a beleza".
Um dia Rubem estava ouvindo uma sonata para violino e piano e se emocionou. Perguntou a si mesmo: Porque é que você está chorando?. A resposta veio fácil: choro por causa da beleza. Mas o que é a experiencia da beleza? Sem uma resposta pronta lembrou de algo que aprendeu com Platão.
"Platão, quando não conseguia dar respostas racionais,
inventava mitos. Ele contou que, antes de nascer, a alma contempla todas as
coisas belas do universo. Esta experiência é tão forte que todas as infinitas
formas de beleza do universo ficam eternamente gravadas em nós. Ao nascer,
esquecemo-nos delas. Mas não as perdemos. A beleza fica em nós adormecida como
um feto. Assim, todos nós estamos grávidos de beleza, beleza que quer nascer
para o mundo qual uma crianca. Quando a beleza nasce, reencontramo-nos com nós
mesmos e experimentamos a alegria. Agora vem a contribuicao de Rubem Alves.
Continuando o mito. Há seres privilegiados – eles bem que poderiam ser chamados
de anjos – aos quais é dado acesso a esse mundo espiritual de beleza. Eles veem
e ouvem aquilo que nós nem vemos nem ouvimos. Aí eles transformam o que viram e
ouviram em objetos belos que os homens normais podem ver e ouvir. É assim que
nasce a arte. Ao ouvir uma música que me comove por sua beleza, eu me re-encontro
com a mesma beleza que estava adormecida dentro de mim"
Eu acho que Rubem é um destes anjos que transforma o que vê em beleza.